sexta-feira, 20 de julho de 2012


Direito de Escolher
cont.da reportagem Parteiras Urbanas




Apesar de não ser uma gestante jovem, Maria tinha saúde de sobra. E a princípio qualquer mulher saudável está apta a ter parto normal e 100% natural, inclusive em casa. Esta, aliás, é uma decisão que deve ser tomada por ela, por mais ninguém. Até os profissionais mais contrários ao parto domiciliar concordam que é direito da mulher escolher como quer ter filho. 'Desde que a gestante seja bem orientada sobre riscos, vantagens e desvantagens de cada procedimento, sua vontade tem de ser respeitada', ressalta Ymayo. Essencial é ter um pré-natal completo e confiável.


A professora de inglês paulista Ana Carolina Wiechmann Elvezio, de 26 anos, custou a realizar o parto dos sonhos. Só conseguiu na terceira tentativa, depois de passar por uma cesariana e por um parto normal 'mecanizado'. 'Na segunda gravidez, já conhecia o parto humanizado, mas não achei quem me atendesse em domicílio e as casas de parto não me aceitavam por causa da cesariana anterior. Acabei parindo no hospital, com um plantonista e intervenções médicas desnecessárias.' Quando engravidou de novo, ela decidiu que ia ser do seu jeito. E foi. 'Depois de duas horas, o bebê saiu', lembra. Além dela, apenas o marido assistiu ao evento. 'Foi tão rápido que a parteira só chegou depois que a Manuela já havia nascido', diverte-se.


Para a maioria dos médicos, ter o bebê em casa quando existem opções mais seguras é um risco inaceitável. 'As complicações mais comuns, como hemorragia pós-parto, podem surgir sem aviso prévio e exigem intervenção médica imediata', ressalta o obstetra Osmar Colás, secretário da Comissão Especializada em Assistência ao Parto e Tocurgia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). 'O modelo ideal, aceito pela Febrasgo, são as casas em que os partos são feitos conjuntamente por obstetriz e médico. Ou instituições como a Casa de Maria, em São Paulo, que é acoplada a um hospital', completa.


Um Ato Natural


Mas falar de parto fora do hospital soa dissonante em um país onde a maioria dos médicos parece preferir a cesariana. E, para convencer suas pacientes, usam argumentos que assutam. Às vezes afirmam, por exemplo, que a bacia é estreita ou o bebê, grande. Realmente, pode haver uma desproporção, mas isso só é diagnosticado no fim do trabalho de parto, explica Kuhn. Um médico jamais poderia marcar antes uma cesariana por isso. E há argumentos que simplesmente não procedem, como cordão umbilical enrolado no pescoço. 'Ocorre com cerca de 30% dos bebês, mas não há perigo de asfixia', diz Kuhn. A chave da questão é que o parto normal pode levar de 12 a 24 horas. A cesariana é rápida e exige menos decisões de última hora do médico. 'Além da insegurança, os obstetras não querem perder horas com um trabalho de parto para ganhar a mesma remuneração da cesariana, na qual gastam uma hora', avalia Colás. Só uma mudança cultural faria o parto normal voltar a ser encarado por todos como o que de fato ele é: um ato fisiológico, natural, para o qual 85% das mulheres estão preparadas. Assim, o número de cesarianas poderia cair para os 15% a 20% recomendados pela OMS. Se dependesse só da vontade das parturientes, isso já teria acontecido. Em estudo de 2001, cerca de 80% das 1.136 grávidas brasileiras ouvidas declararam preferir o parto normal. Apenas metade delas conseguiu um.

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