quarta-feira, 18 de julho de 2012

Preparação do Perineo

Períneo: o parto não é o vilão
Apontado como principal causa de disfunções sexuais e incontinência urinária entre mulheres, o parto é apenas um entre muitos fatores. A boa notícia é que existem maneiras de preparar o períneo para diminuir o risco de lesões
Por Luciana Benatti
Como será o sexo depois do parto? E se a vagina ficar larga, frouxa? Essa preocupação, muito comum entre as mulheres – e homens, é claro – nos meses que antecedem a chegada de um filho, tem origem numa ideia arraigada na cultura brasileira: a de que a passagem do bebê pela vagina deixará os músculos flácidos, comprometendo a vida sexual da mulher.
Essa associação entre parto normal e danos permanentes ao períneo – musculatura ao redor da vagina e do ânus – também é comum entre os médicos, que assim aprendem inclusive nos livros. Um dos manuais de obstetrícia mais usados nas faculdades afirma que a passagem do bebê “raramente é possível sem lesar a integridade dos tecidos maternos, com lacerações e roturas as mais variadas, a condicionarem frouxidão irreversível do assoalho pélvico”.
Alguns profissionais, no entanto, contestam essa visão. Especialista em preparo perineal para o parto, a fisioterapeuta Miriam Zanetti começou a desconfiar dessa afirmação anos atrás, quando tratava incontinência urinária em mulheres na faixa dos 50 ou 60 anos. “Percebi que muitas delas tinham feito cesárea. Algumas nunca haviam engravidado”, conta.
Ao pesquisar o assunto, ela descobriu que, além do parto, existem vários outros fatores que podem causar disfunções no assoalho pélvico. A começar pela gestação, já que o peso do bebê distende essa musculatura. E também obesidade, prisão de ventre, tosse crônica e a prática de atividade física de impacto – corrida, basquete, vôlei. “O parto não é o vilão”, conclui.
É preciso considerar também a cultura de intervenção médica no parto que predomina no Brasil. Trocando em miúdos: muitas vezes o dano não é causado pelo parto em si, mas por procedimentos médicos realizados sem necessidade. O melhor exemplo disso é a episiotomia, corte no períneo feito rotineiramente nas maternidades brasileiras sob o argumento de evitar lesões nessa musculatura. Uma tese há muito derrubada pelas evidências científicas.
“Na episiotomia são cortados pelos menos três músculos. E músculo cortado é difícil de reabilitar”, explica Miriam. “Dizem que basta uma sutura bem feita para deixar tudo bonitinho depois, mas não é apenas a estética que deve ser preservada e sim a função.” No Brasil, a taxa de episiotomia chega a 90%. Na Suécia, é de 10%. “Existe um movimento no mundo inteiro para reduzir essa intervenção no parto normal, mas aqui a maioria dos profissionais ainda não acredita no que afirmam as evidências científicas”, lamenta Miriam.
Treino para o parto
Sustentar os órgãos pélvicos, manter a continência urinária e fecal e desencadear o reflexo orgásmico na relação sexual são as três funções da musculatura do períneo. Para preservá-las, é preciso manter essa região fortalecida a vida inteira, o que a maioria das mulheres consegue apenas com a prática de exercícios de contração e relaxamento.
Outra propriedade importante desses músculos, o alongamento, é necessária numa única situação: o parto. E pode ser “treinada” no final da gravidez. “É um trabalho preventivo. Se o músculo pode alongar, vamos alongar”, sugere. A questão é: como? Existem duas formas, ambas igualmente eficazes: a massagem perineal e o uso do aparelho alemão Epi-no.
A massagem consiste em introduzir o dedo na vagina e deslocá-lo de um lado ao outro, pressionando em todos os sentidos. Como lubrificante, pode-se usar um óleo de preferência da gestante, como o de coco ou o de semente de uva, ou KY Gel, que é hipoalergênico. A massagem pode ser feita por um profissional, pela mulher ou mesmo pelo parceiro.
O Epi-no (o nome vem de “episiotomia, não”) possui um balão de silicone que deve ser colocado na vagina e insuflado, uma ação que distende os músculos da região em todos os sentidos. “É o mesmo movimento que acontece durante o parto: a cabeça fetal pressiona o assoalho pélvico, que distende para o bebê sair”, explica Miriam.
Epi-no: modo de usar
O balão deve ser introduzido na vagina, insuflado até o limite individual de cada mulher e mantido assim por cinco minutos. “No manual fala-se em vinte minutos, mas não precisa”, aconselha Miriam. Depois é só tirá-lo devagarinho. E repetir esse treino todos os dias. “Além do alongamento, a mulher tem a percepção de como é a saída de algo redondo, que parece a cabeça do bebê. Com isso consegue entender o que fazer durante o parto, como relaxar a musculatura perineal”, explica. Segundo ela, essa percepção é a úncia vantagem do aparelho em relação à massagem. “Embora o Epi-no esteja na moda, os dois têm o mesmo efeito para o alongamento da musculatura. A diferença é essa sensação, que deixa as gestantes mais seguras para o parto, pois já sabem como será”.
Cabe aqui um alerta: o Epi-no deve ser usado preferencialmente após a instrução de um profissional especialista em assoalho pélvico, acostumado com a avaliação dessa musculatura. “Tenho visto muita gente utilizando o aparelho incorretamente, inclusive por tempo muito maior do que o necessário ou numa profundidade inadequada”, adverte a fisioterapeuta. “Não é um procedimento totalmente isento de risco. E algumas gestantes já precisaram suspender o uso, pois sangravam muito. Uma sentia a pressão baixa, com sensação de desmaio”, explica.
Os depoimentos de mulheres que fizeram algum tipo de preparo perineal para o parto (leia abaixo) mostram bons resultados. Assim como revelou a tese de doutorado da fisioterapeuta. “Estudei 230 parturientes que foram avaliadas com o Epi-no. Depois do parto verifiquei o que havia acontecido com o períneo delas. Fizemos a análise estatística e concluímos que aquelas que atingiam 21 cm de perimetria (o perímetro da abertura da vagina, medido com fita métrica) tinham cinco vezes mais chance de ficar com o períneo íntegro no parto.”
Desde que começou a trabalhar com preparação perineal, Miriam tem visto o número de pacientes crescer bastante. “A maioria das mulheres vem ao consultório porque comprou o Epi-no e quer saber como usar.” Na consulta, ela avalia a força muscular e ensina a fazer a massagem perineal e a usar o aparelho. As gestantes que têm o períneo muito rígido precisam voltar semanalmente. Outras, com períneo flexível, voltam em quatro ou cinco semanas. Algumas nem precisam voltar. “Não se sabe ainda o que determina essa capacidade. Às vezes, sem nenhum preparo, o períneo já é excelente.”
É certo que o preparo aumenta as chances de manter o períneo íntegro, mas não há como garantir de não haverá lesão durante o parto. “Existem diversas outras variáveis. Às vezes pode ser necessária uma episiotomia ou alguma outra intervenção. Mas acho interessante ir para o parto sabendo se você tem mais ou menos chance ficar com o períneo íntegro”, afirma Miriam, que sugere uma avaliação a todas as mulheres a partir de 32 semanas de gestação.
Epi-no: como comprar
Fabricado na Alemanha pela Tecsana, o Epi-no Delphine Plus ainda não é vendido no Brasil nem nos Estados Unidos, apenas na Europa, Canadá e Austrália. A empresa mineira Inove já pediu o registro do produto e aguarda apenas a liberação 

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